Antigo TestamentoDeus Quer que Usemos Seu Nome Divino? Parte 1 O Antigo Testamento mostra que Deus quer que o seu povo use o seu nome próprio, e é por isso que ele é usado quase 7.000 vezes. Andrew Case18 Dezembro, 2024 CompartilharFacebookTwitterLinkedInImprimir Nível Quando eu era criança, achava que o nome de Deus era “o Senhor”. À medida que fuicrescendo, comecei a entender que, quando eu via o Senhor em letras maiúsculas, issosignificava que era o nome especial e divino de Deus que Ele revelou a Moisés. Isso mepareceu estranho e confuso – acrescentando uma camada de complexidade à compreensão de uma Bíblia que já era difícil o suficiente para um adolescente entender. Não me lembroquando foi a primeira vez que ouvi a pronúncia do nome Yahweh, mas quando fui para oseminário, logo percebi que essa era uma pronúncia e uma grafia aceitas para o nome deDeus, especialmente nos círculos acadêmicos. Então, como chegamos a esse ponto em que quase todas as Bíblias em português usam “oSenhor” (um título) no lugar do seu nome próprio? Podemos saber como o nome de Deus eraoriginalmente pronunciado? Não deveríamos evitar usar o nome de Deus por reverência aosagrado? Por que os autores do Novo Testamento não usaram o nome de Deus? Como ostradutores da Bíblia decidem se devem traduzir algo como Yahweh ou o Senhor? Todas essassão perguntas importantes que tentaremos responder ao longo desta série. Mas, primeiro, precisamos responder a uma pergunta fundamental: qual é o desejo revelado de Deus comrelação ao uso e à preservação de seu nome? O desejo de Deus Muitas pessoas acham que Deus se ofende com a pronúncia e o uso de seu nome pessoal emtodo e qualquer contexto. Por exemplo, nos círculos judaicos, há um forte consenso de que éblasfêmia pronunciar ou até mesmo escrever o nome de Deus e que todos devem se referir aele somente por meio de títulos como “Senhor” ou “O Nome” por respeito e honra. O desejode temer a Deus e tratar seu nome com honra é louvável, mas as Escrituras ensinam que issoé feito por meio do amor leal e da obediência, não pela eliminação da pronúncia de seu nome(Dt 28:58). Para testar essa ideia, devemos nos voltar para as Escrituras para entender o queDeus quer que façamos com seu nome. Muitas pessoas acham que Deus se ofende com a pronúncia e o uso de seu nome pessoal em todo e qualquer contexto. Vamos começar com Êxodo 3:15: “Diga aos israelitas: ‘Yahweh (יהוה), o Deus dos seusantepassados, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, o Deus de Jacó, enviou-me a vocês’. Esseé o meu nome para sempre, nome pelo qual serei lembrado de geração em geração”. Emhebraico, a última frase é lida literalmente: “Este (é) o meu nome para sempre, e este (é) omeu memorial/lembrança/menção (זכר zeker) por todas as gerações.” Algumas versões, como a NET Bible e a King James, traduzem zeker como “memorial”, mas a palavra nesse contexto pode ser entendida como implicando a fala do nome, já que as coisas que não são faladas geralmente se perdem em culturas orais. É por isso que a NVI traduz: “Esse é o meu nomepara sempre, nome pelo qual serei lembrado de geração em geração”. Em Isaías 26:8, o nome de Deus e a “menção/lembrança” são novamente combinados,remetendo a Êxodo 3:15: “Ó Yahweh, … o teu nome e a tua lembrança (zeker) são o desejo donosso coração”. O oposto dessa lembrança é a sepultura, onde o nome de Yahweh não éouvido: “Entre os mortos, não há quem se lembre (zeker) de ti. Na sepultura, quem telouvará?” (Salmos 6:5, Eclesiastes 9:5). Oséias 12:5 também ecoa Êxodo 3:15 quandoescreve: “Sim, o próprio Yahweh , o Deus dos Exércitos! Yahweh é o nome pelo qual élembrado (zeker).” O salmista também aborda o mesmo tema: “O teu nome, Yahweh,permanece para sempre; serás lembrado (zeker), Yahweh, por todas as gerações!” (Salmos135:13). Portanto, está claro que Deus quer que nos lembremos o nome que ele revelou a Moisés noMonte Sinai, que muitos estudiosos pronunciam como Yahweh. Mas e quanto aos nomes deoutros deuses? Nomes de outros deuses Se voltarmos ao livro de Êxodo, encontraremos a forma verbal de zeker usada para proibir amenção (e, portanto, a lembrança) dos nomes de outros deuses: “Não invoquem (tazkiru) onome de outros deuses; não se ouçam tais nomes dos seus lábios. (Êxodo 23:13). O ponto doversículo é que o nome de Deus é o único digno de estar nos lábios das pessoas e, portanto,de ser lembrado e tornado famoso. Não se deve permitir que outros deuses concorram comEle nessa arena. Na mesma linha, Josué diz: “Não invoquem os nomes dos seus deuses nem jurem por eles(tazkiru). Não lhes prestem culto nem se inclinem diante deles” (Josué 23:7). Em outraspalavras, um acordo unilateral de silêncio quando se trata dos nomes dos deuses é uma forma de esquecê-los e menosprezá-los, o que ajudará os israelitas a evitar jurar por eles ouservi-los. Evidência dos votos Uma das maneiras práticas pelas quais Deus estabeleceu o uso e a lembrança de seu nome foipor meio de votos. As Escrituras falam claramente sobre isso em Deuteronômio 6:13:“Temam a Yahweh, o seu Deus, e só a Ele prestem culto e jurem somente pelo Seu nome”(veja também Deuteronômio 10:20). Jeremias, como um fiel estudante da Torá, reitera a importância disso: “Se aprenderem a comportar‐se como o meu povo e jurarem pelo meu nome, dizendo: ‘Tão certo como viveYahweh’, como antes ensinaram o meu povo a jurar por Baal, então eles serão estabelecidosno meio do meu povo” (Jeremias 12:16). Essa é uma promessa surpreendente de restaurar asoutras nações junto com Judá, se elas aprenderem os caminhos do povo de Yahweh.Assim, fica claro que jurar pelo nome de Yahweh constitui uma marca importante daquelesque pertencem a Ele e o seguem. Por outro lado, Yahweh não valoriza o fato de evitar o usode seu nome, seja por reverência ou para evitar o risco de blasfêmia. Consequentemente,evitar o uso do nome de Yahweh ao fazer um voto seria ir contra seus desejos explícitos. Muitas pessoas na Bíblia hebraica estão em conformidade com o desejo de Yahweh de queSeu nome seja usado para jurar ou fazer votos. Boaz diz a Rute: “Como vive Yahweh, eu aresgatarei” (Rute 3:13). O povo defende Jônatas diante de Saul dizendo: “Tão certo comoYahweh vive, nem um só cabelo da sua cabeça cairá ao chão”(1 Samuel 14:45). Até mesmoSaul diz sobre Davi: “Tão certo como vive Yahweh, Davi não será morto” (1 Samuel 19:6),Elias (1 Reis 17:1) e Miquéias (2 Crônicas 18:13) são outros exemplos. Uso típico do nome Se fosse proibido usar o nome de Deus, seria de se esperar que homens justos como Boaz eElias se abstivessem de usá-lo. No entanto, esse não é o caso. Vemos até mesmo evidênciasdo nome divino em saudações casuais. Rute 2:4 diz: “Naquele exato momento, Boaz chegoude Belém e saudou os ceifeiros: ― Yahweh esteja com vocês! Eles responderam: ― Yahwehte abençoe!”. Embora não haja uma concordância uniforme entre os comentaristas sobre oquão casual ou convencional foi essa saudação, o que está claro é que o nome divino estásendo usado em um contexto não religioso como uma espécie de saudação. O contexto dámais peso à ideia de que se tratava de uma saudação padrão como “Bom dia!”. Essa pareceser mais uma maneira prática pela qual o nome de Yahweh era lembrado ao longo dasgerações (veja também Juízes 6:12). O nome não era considerado sagrado demais para serpronunciado nas interações cotidianas. Receba novos artigos e atualizações em sua caixa de entrada. Leave this field empty if you're human: Além disso, é importante observar como Eli instrui o jovem Samuel a se dirigir a Deus em1Samuel 3:9: “Eli disse a Samuel: “Vá e deite-se; se Ele o chamar, diga: ‘Fala, Yahweh, poiso teu servo ouve’”. É impressionante que um sacerdote de Deus diga a um garotinho parachamar Deus diretamente pelo Seu nome. Seria de se esperar que, se os antigos israelitastivessem o forte costume de demonstrar respeito a Deus dirigindo-se a ele apenas por “meuSenhor”, Eli teria instruído Samuel a fazer o mesmo, mas ele não o fez. Dado o amor de Deuspelas crianças demonstrado em toda a Escritura, não é de surpreender que Ele as receba parachamá-lo pelo nome. É impressionante que um sacerdote de Deus diga a um garotinho parachamar Deus diretamente pelo Seu nome. Como o nome de Deus é diferente Por fim, Yahweh se tornou único em meio aos deuses das nações ao revelar Seu próprio nomepessoal. Todos os outros deuses que rodeavam os hebreus eram chamados por títulos ouelementos da criação sobre os quais governavam ou representavam. Os exemplos incluem Baal (“senhor”), Dagon (provavelmente “grão”) e Moloque (“governante”). Faz sentido queos deuses pagãos não tivessem nomes pessoais porque não tinham a intenção de se relacionar com eles em um nível pessoal, mas sim de serem manipulados para se obter uma boa vida. Perdemos esse contraste marcante entre os deuses pagãos e Yahweh quando evitamos usar o nome pessoal que Ele revelou. Assim, eu poderia sugerir que perdemos esse contraste marcante entre os deuses pagãos eYahweh quando evitamos usar o nome pessoal que Ele revelou e usamos apenas um título. Aotraduzir o nome apenas como “Senhor” no Antigo Testamento, podemos estar cegandoinvoluntariamente o leitor para essa singularidade específica do único Deus verdadeiro. Seráque essa mesma crítica se aplica aos escritores do Novo Testamento? De forma alguma, comoveremos em um artigo posterior. Conclusão Deus claramente quer que seu nome pessoal seja lembrado para sempre. E a melhor maneirade lembrar seu nome é fazer o que Davi e outros escritores bíblicos fizeram: usar seu nomelivremente, especialmente em oração, louvor, votos e ao recontar suas obras maravilhosas aolongo da história. Nenhuma passagem das Escrituras proíbe o uso do nome de Deus, e é porisso que ele é usado quase 7.000 vezes pelos autores bíblicos. Então, como foi que perdemoso nome de Deus em muitas tradições e traduções da Bíblia? Trataremos dessa questão emnosso próximo artigo desta série. Este artigo é do domínio público. Pode ser utilizado, partilhado e reproduzido livremente. Para um tratamento mais aprofundado, ver aqui. Andrew Case Andrew se formou no Southern Baptist Theological Seminary e no Canada Institute of Linguistics. Ele atua como consultor de tradução da Bíblia e produz um podcast sobre sua área chamado Working for the Word. Ele e sua esposa Bethany agora trabalham no México e juntos fundaram o FreeHebrew.online onde usam tecnologia e uma abordagem de linguagem viva para ensinar hebraico, de uma forma livre, para o mundo.